Um levantamento recente, realizado com 500 líderes de diversas áreas de negócio em todo o mundo, descobriu que a maioria das empresas investe – ou pretende investir – em iniciativas voltadas a estimular a colaboração entre seus profissionais.
Mais de 80% dos pesquisados pelo estudo, patrocinado pela Avanade, disseram que a colaboração representa uma chave para o sucesso dos negócios nesse novo ambiente econômico. Cerca de 75% deles informaram ainda que planejam melhorar as ferramentas de comunicação no próximo ano, para suportar e incentivar os ambientes colaborativos.
Se o cenário exigirá da TI ferramentas e sistemas voltados a contribuir com a criação de ambientes colaborativos, por outro lado, obrigará a uma mudança de postura dos profissionais que atuam nos departamentos de tecnologia. “Essas pessoas carregam o estigma de não serem particularmente colaborativas”, avalia Jeffery Hammond, analista da consultoria Forrester Research, que preparou um estudo sobre como desenvolver equipes de alta performance.
“Muitos departamentos de TI não valorizam a colaboração pelo fato de operarem no modelo tradicional de comando e controle”, analisa Hammond, que completa: “Como resultado, desestimulam o trabalho colaborativo e, mais importante, não valorizam a criatividade.”
Uma situação que, na visão do especialista, pode se tornar um problema, em especial nesse momento, no qual a colaboração tem se tornado uma questão imperativa para as corporações. Ao mesmo tempo, ele aponta que uma postura colaborativa pode ser valiosa para os departamentos de TI, que contam hoje com um número restrito de profissionais e precisam buscar ideias criativas para solucionar as questões de negócio, “sem ter de reiventar a roda”.
A boa notícia, segundo Hammond, é que os funcionários da TI podem ser tão criativos e colaborativos quanto qualquer outro profissional. Um estudo realizado, em 2009, pela Forrester com desenvolvedores, descobriu que metade deles escreve seus códigos fora do trabalho e cerca de 20% participam de projetos de open source (código aberto). “Esse é um sinal de que essas pessoas estão interessadas em colaboração”, aponta.
Mas como desenvolver esse espírito de colaboração e criatividade no departamento de TI? A seguir, a fabricante de semicondutores Applied Materials conta como tem implementado essa iniciativa.
Caso de sucesso
Nos últimos quatro anos, a Applied Materials reestruturou completamente o departamento de TI, com o intuito de reduzir custos, melhorar o nível de serviços e contribuir com a transformação do negócio.
Na prática, o CIO da Applied, Ron Kifer, teve de reduzir sua equipe de TI de 580 profissionais em tempo integral, em 2006, para cerca de 250 pessoas hoje em dia. Para isso, terceirizou boa parte das tarefas menos nobres e focou a equipe remanescente em tarefas estratégicas, que tragam valor real para a organização.
Recentemente, o departamento de TI deixou de operar com equipes regionais independentes para atuar como uma mesma equipe global, conta o vice-presidente corporativo e responsável pelo projeto de transformação da companhia, Jay Kerley. “Com isso, os profissionais de tecnologia precisaram encontrar formas de colaborar em tempo real e atender a clientes globais, que operam em diversos horários”, relata o executivo.
A saída encontrada foi mudar a cultura do tradicional modelo hierárquico para uma estrutura matricial de gestão da TI, na qual a resolução de problemas deve ser criada em conjunto, com a participação das equipes espalhadas em todo o mundo. Para isso, os funcionários foram estimulados a comunicar suas ideias de forma efetiva, com o intuito de engajar e debater opiniões com outros profissionais. “Mas isso exige um certo nível de confiança e maturidade”, diz Kerley.
Para garantir que a mudança fosse bem-sucedida, o vice-presidente mapeou as necessidades de comunicação da equipe. Assim, no início deste ano, ele fez uma pesquisa entre a equipe de TI, perguntando o nome das pessoas com as quais cada um precisava se comunicar com frequência e que tipo de informação era crítica nessas conversas, seja para contribuir em projetos ou buscar conselhos e ideias.
As respostas criaram um mapa de comunicação, que ilustra como as comunicações acontecem entre as pessoas e que serviu para criar a base do projeto colaborativo. A partir daí, Kerley identificou os indivíduos que mais trabalhavam em equipe e convidou 12 dessas pessoas para discutir as melhores formas de encorajar um estilo de colaboração para toda a área de TI.
“A equipe concordou que alguns dos profissionais de TI tinham dificuldades para se relacionar por conta de questões relacionadas à lingua e a barreiras culturais”, relata o vice-presidente. Outras duas barreiras apontada foi a falta de confiança e a capacidade de liderança.
Para acabar com as barreiras de comunicação, foi criado um plano de desenvolvimento, voltado aos 250 profissionais de TI. O objetivo é ajudar os profissionais a planejarem suas carreiras, estimulá-los a promover mudanças no ambiente de trabalho e buscar maneiras de trabalharem de forma mais colaborativa, explica o executivos.
Em paralelo, a companhia ainda lançou um programa de desenvolvimento com um grupo de 40 pessoas da equipe de TI, coordenado por Steve Finnerty, um ex-CIO da Kraft Foods e que foi contratado pela Applied. O executivo, que fez diversos cursos sobre mentoring (tutoria), tem a missão de desenvolver lideranças internas na companhia, bem como estimulá-los a defender o estilo colaborativo das equipes.
O objetivo do programa comandado por Finnerty, que tem previsão de dez meses, é treinar os funcionários a trabalhar em equipe e com as diversas áreas de negócio, para atingir objetivos comuns. Além disso, a companhia criou um prêmio para as pessoas que desenvolvam os melhores processos de colaboração.
Comunicação internacional
A Applied Materials realizou também mudanças voltadas a tornar as operações menos centralizadas nos Estados Unidos e mais sensíveis às necessidades dos funcionários internacionais. Isso começou com uma política na qual os empregados recebem todas as ferramentas de comunicação necessárias para trabalhar de qualquer local.
“As pessoas que estão na Índia não precisam mais voltar para o escritório às 21 horas para participar de uma conference call global. Elas podem acessar a reunião de casa”, cita Kerley. Ele explica que isso teve como objetivo garantir um equilíbrio melhor entre vida pessoal e profissional.
E o executivo informa que, apenas seis meses após a pesquisa sobre a comunicação do departamento de TI, já começa a ver os primeiros resultados. “Até os profissionais mais tímidos ou que demonstravam mais dificuldades com a língua inglesa têm participado ativamente das reuniões de brainstorming (troca de ideias)”, aponta o vice-presidente.
Fonte: Originalmente publicado por ComputerWorld/EUA em 22/09/2010
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